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O FUNDAMENTO RACISTA DA ARQUITETURA NUCLEAR

  • Foto do escritor: C-TLP
    C-TLP
  • 10 de jan. de 2021
  • 24 min de leitura

Atualizado: 29 de nov. de 2024

ELAINE SCARRY

Tradução  R. d' Arêde

  Torna-se cada vez mais evidente que a crença racista na supremacia branca fundamenta o arsenal nuclear dos Estados Unidos, e que a atitude do país em relação às armas nucleares reforça o racismo em seu próprio território.



No último Memorial Day[i] , um policial de Minneapolis se ajoelhou sobre o pescoço de um homem negro, George Floyd, por 8 minutos e 46 segundo. Há 75 anos, um piloto estadunidense lançava uma bomba atômica sobre a população civil de Hiroshima. Os dois eventos, realidades distantes no tempo, em espaço e escala, compartilham três características chaves: ambos foram uma ação de violência do Estado; ambos exercidos contra um adversário indefeso; ambos um ato de puro racismo.


As duas primeiras características - o papel do Estado e a impossibilidade de autodefesa - provavelmente exigem pouca elaboração. Ambos os eventos foram um ato de crueldade estatal: no primeiro caso, os agentes do Estado agiram em seu próprio território, já no segundo, em território estrangeiro. Ambos foram uma ação contra um adversário indefeso: as mãos de George Floyd estavam algemadas para trás; ele não resistia à prisão e nem colocava em risco os agentes policiais, sequer os desafiava verbalmente; usou sua voz apenas para implorar que lhe fosse permitido respirar, chamando então por sua falecida mãe, à qual logo se juntou. Tão pouco poderiam se defender os estadunidenses negros executados na longa fila que precede George Floyd. O trabalho de Breonna Taylor como técnica de emergências médicas envolvia, diariamente, tanto a proteção de seus pacientes quanto a dela própria. Mas ela não poderia, dormindo profundamente em sua cama, realizar qualquer tipo de autodefesa quando a polícia de Louisville, sem mandado, e depois da meia-noite, arrombou a porta de sua casa e atirou nela oito vezes.

O reconhecimento, agora amplamente compartilhado, de que o racismo policial nos Estados Unidos não é apenas uma prática isolada de agentes individuais, mas sim uma realidade sistêmica, implica também no reconhecimento de que os estadunidenses negros perderam o direito de autodefesa em suas interações com a polícia, um direito que, pode-se dizer, subjaz a todos os outros. Nos Estados Unidos, pessoas racializadas - incluindo nativo-americanos, cujo índice de mortes pela polícia é o mais alto entre todos os grupos raciais[1] - não podem se defender. Qualquer pessoa, percebendo a iminência de ser assassinada, poderia tentar resistir (correndo, recusando-se a ser algemada, brandindo os braço ou uma arma), mas essa resistência será usada de forma retroativa, para justificar um assassinato que já estava em andamento. A única escolha é conformar-se ou resistir. Em outras palavras, ser morto ou ser morto.



A autodefesa também não foi uma opção para os 300 mil habitantes civis de Hiroshima, tampouco para qualquer um dos 250 mil em Nagasaki. O clássico Hiroshima, de John Hersey, nos revela que, naquela manhã de agosto, ao nascer do sol, a cidade estava repleta de iniciativas corajosas, destinadas a fortalecer a capacidade coletiva de autodefesa contra ataques de guerra convencionais, como a limpeza das faixas de emergência do corpo de bombeiros, realizada por centenas de alunas colegiais, muitas das quais desapareceriam instantaneamente sob o calor de 6.000°C do flash inicial, enquanto outras tantas, mais distantes do centro, manteriam suas vidas, mas perderiam seus rostos.[2]


Os bombardeios de Hiroshima e Nagasaki deram início a uma era na qual, pela primeira vez na face da Terra, e estendendo-se ao longo de sete décadas e meia até os dias atuais, a humanidade, coletiva e sumariamente, perdeu o direito de autodefesa. Ninguém no mundo - ou quase ninguém[3] - possui os meios necessários para sobreviver a uma explosão quatro vezes mais quente que o sol, nem para enfrentar a violência dos ventos e a fúria das chamas que vêm em seguida.

Os bombardeios de Hiroshima e Nagasaki deram início a uma era na qual, pela primeira vez na face da Terra, e estendendo-se ao longo de sete décadas e meia até os dias atuais, a humanidade, coletiva e sumariamente, perdeu o direito de autodefesa. 

Seria correto designar a autodefesa como o direito que subjaz a todos os outros? A liberdade de expressão, por exemplo, importa por muitas razões, mas, no que há de mais elementar, ela importa porque aumenta as chances de uma pessoa se defender e, dessa forma, sobreviver. O mesmo vale para o direito de livre imprensa, o direito de livre associação, o direito a um julgamento justo, o direito de não ser submetido à busca e apreensão sem um mandado. Cada um desses direitos justifica-se por seus muitos benefícios, mas o essencial é que todos eles sublinham o direito de autodefesa, o direito de se proteger e, consequentemente, preservar a própria vida. Durante séculos, a filosofia política tem questionado: "que tipo de ordenamento político resultará em um povo nobre e generoso?" Certamente não será aquele em que alguns poucos homens controlam os meios para destruir, arbitrariamente, todas as pessoas do mundo, das quais os meios de autodefesa foram eliminados. 

 

A terceira característica comum entre o Memorial Day de 2020 e os dias 6 e 9 de agosto de 1945 é o racismo que tornou cada um destes eventos possível. O racismo é uma deformação da percepção, da qual resulta o julgamento de que pessoas com determinada cor de pele ou procedência étnica são não apenas menos dignas (de emprego, educação, dinheiro, assistência médica, confiança, responsabilidade, perdão, simpatia), mas também dispensáveis. Podem ser linchadas, estranguladas, terem seus rostos queimados; podemos fazer um estudo de seguimento depois. 

Quando os estadunidenses souberam que as pessoas em Hiroshima e Nagasaki foram coletivamente vaporizadas em menos tempo do que o coração leva para bater, muitos deles aplaudiram. Mas não todos. O poeta negro Langston Hughes imediatamente reconheceu a depravação moral da execução de 100 mil pessoas, e identificou o racismo como o fenômeno que havia licenciado tal depravação: "Como é que não as experimentamos (as bombas atômicas) na Alemanha... Apenas não queriam usá-las contra gente branca"[4]. Embora a construção da arma tenha sido concluída somente após a rendição da Alemanha, em 7 de maio de 1945, o Japão já estava designado como alvo desde 18 de setembro de 1944, e o treinamento para a missão já tinha começado naquele mesmo mês[5]. O jornalista negro George Schuyler escreveu: "A bomba atômica colocou os anglo-saxões definitivamente no topo, onde permaneceriam por décadas"; o país, em sua "arrogância racial", "alcançou o triunfo máximo ao tornar-se capaz de dizimar cidades inteiras de uma só vez"[6]. Ainda no primeiro ano (antes que John Hersey começasse a despertar os estadunidenses para o terrível horror dos ferimentos), a romancista e antropóloga Zora Neale Hurston já acusava o presidente dos Estados Unidos de ser um "carniceiro", e, com desprezo à cumplicidade do silêncio público, perguntava: "É por sermos tão devotados a um ‘bom sinhô’[ii] que não sentimos sequer o dever de protestar contra tais crimes?”[7] Ela viu nesse silêncio - fosse ele praticado por brancos ou por pessoas racializadas - um ato covarde de escravidão moral à supremacia branca. 

 

Cada uma dessas três passagens, assim como muitas outras, estão documentadas na brilhante história de Vincent Intondi, African-American Against the Bomb (2015), que relata o repúdio da comunidade negra às armas nucleares, desde 1940 até o discurso do presidente Obama, em 5 de abril de 2009, na cidade de Praga. Entre aqueles que se manifestaram com mais firmeza e frequência estão o saxofonista de jazz Charlie Parker, o compositor e pianista Duke Ellington, o ativista gay e dos direitos civis Bayard Rustin, o poeta e romancista James Baldwin, a dramaturga Lorraine Hansberry, o pastor e líder do movimento pelos direitos civis Martin Luther King Jr., e o sociólogo pan-africanista W.E.B. Du Bois. Durante essas mesmas décadas, muitas pessoas brancas também se manifestaram contra a depravação moral representada pelas armas nucleares, algumas inclusive sofrendo custos terríveis semelhantes aos sofridos por Du Bois[iii], que, por causa de sua inflamada denúncia a respeito do arsenal nuclear dos Estados Unidos, foi preso repetidas vezes, acusado de ser um agente estrangeiro sem registro, teve seu passaporte negado e, finalmente, foi solicitado a se expatriar em Gana[8]. Mas os estadunidenses negros, para além de educarem todos aqueles que estivessem dispostos a ouvir sobre a depravação moral das lesões infligidos, também têm buscado incansavelmente educar o país sobre a estrutura racial que serve de plataforma para o lançamento de mísseis. 


Alguns leitores perceberão como autoevidente a compulsão supremacista branca dos Estados Unidos agindo na devastação de Hiroshima e Nagasaki, e apoiando hoje o prodigioso arsenal nuclear do país, que passa por uma renovação de 1,2 trilhões de dólares[9]. Contudo, outros leitores - mesmo aqueles que entendem a torpeza moral representada pelas armas nucleares e que trabalham sem descanso pelo seu desmantelamento - podem ser mais relutantes em reconhecer o aspecto racial. Afinal, sabemos que as armas nucleares têm o poder de eliminar não apenas uma ou outra raça, mas todas as pessoas do planeta. Estados Unidos e Rússia, que juntos possuem mais de 93% de todo arsenal nuclear mundial, há muito são designados os maiores adversários um do outro, e os russos, com frequência e de forma vaga, são descritos racialmente como brancos (ainda que eles, assim como os estadunidenses, sejam constituídos de muitos grupos étnicos diferentes). Considerando que uma guerra nuclear tenha grandes chances de ser provocada acidentalmente, ou pela apropriação das armas por um hacker ou ator não estatal, os preconceitos raciais conscientes ou inconscientes do presidente ou da cadeia de comando nuclear dos Estados Unidos podem parecer irrelevantes.


No entanto, três listas - a lista de regiões onde os presidentes dos Estados Unidos consideraram um primeiro ataque, a lista de regiões onde os Estados Unidos testaram suas bombas, e a lista de países que os Estados Unidos condenam por aspirarem adquirir armas nucleares - podem ajudar, como vias de entendimento que irradiam para além de Hiroshima e Nagasaki, a tornar inequívoco o fundamento racial da arquitetura nuclear.


 

Vamos começar, então, pelas regiões geográficas onde sabemos que os presidentes dos Estados Unidos contemplaram um primeiro ataque. Em 1954, Eisenhower considerou o uso de armas nucleares no estreito de Taiwan. Os registros de suas declarações em reuniões privadas mostram a presença [do viés] racial, estivesse ele em algum momento explicando o porquê de usar a arma ou, ao contrário, abster-se de usá-la: “O presidente disse que devemos reconhecer que o Quemói[iv] não é problema nosso. Cartas a ele constantemente dizem: o que é que nos importa o que acontece àquela gente amarela lá fora?”[10]. Nixon nos disse ter considerado quatro vezes ordenar um primeiro ataque durante seu governo. Embora ele não tenha nomeado todos os quatro alvos, sabemos que um deles era a República Popular Democrática da Coreia, em 1969[11]. Ele também considerou bombardear a República Democrática do Vietnã[12] em 1972. Lyndon Johnson considerou usar uma arma nuclear contra a China para impedir a China de adquirir uma arma nuclear[13]. Podemos adicionar a esta lista outras ocasiões em que os presidentes dos Estados Unidos ameaçaram lançar um primeiro ataque, por exemplo, durante a Guerra do Golfo, quando o governo George H. W. Bush comunicou a Saddam Hussein que, caso ele usasse armas químicas, mísseis nucleares estavam posicionados para atingir seu país[14].


Assim como os países que os presidentes dos Estados Unidos escolheram para um primeiro ataque, as regiões selecionadas para a realização de testes nucleares indicam a crença de que pessoas racializadas são descartáveis. O doloroso exemplo das Ilhas Marshall foi sucintamente resumido por Dan Zak, do Washington Post: "Os Estados Unidos testaram 67 bombas nucleares de alto rendimento entre os anos de 1946 e 1958, reassentando ilhas inteiras do povo marshalês, expondo muitos à contaminação radioativa, e deixando um legado de enfermidades e exílio para as gerações seguintes"[15]. Uma das bombas era de 15 megatons. Zak descreve o impacto total dos 67 testes fazendo o seguinte cálculo: "Se todo esse poder explosivo combinado fosse uniformemente parcelado ao longo desse período de 12 anos, teríamos o equivalente a 1,6 explosão de Hiroshima por dia"[16]. A imagem não é mais reconfortante ao se verificar os testes conduzidos em solo estadunidense. Neste verão, com a chegada do 75° aniversário do teste nuclear de Trinity, realizado em 16 de julho de 1945, no Novo México, observam assinalaram a distribuição racial: "Não é de surpreender que as populações expostas à precipitação radioativa de Trinity fossem famílias de agricultores empobrecidos, a maioria hispânicos e nativos"[17]. Assim como no Novo México, também em Nevada. Um estudo publicado no jornal de medicina Risk Analysis concluiu: "Nativo-americanos residentes na ampla região ao alcance dos ventos provenientes do campo de testes de Nevada, durante as décadas de 1950 e 1960, receberam significativa exposição à radiação das armas nucleares testadas"[18].


A terceira lista diz respeito aos países que nós [estadunidenses] condenamos por seus líderes e cientistas aspirarem o desenvolvimento de uma arma nuclear. Os Estados Unidos têm tratado esses aspirantes, em todos os casos pessoas racializadas - iranianos, iraquianos, libaneses, norte-coreanos - como imorais, apesar de nossa própria e imensa arquitetura nuclear, apesar de declararmos no Tribunal Internacional de Justiça, em 1995, que possuir um arsenal nuclear, ameaçar usá-lo, usá-lo de fato, e usá-lo primeiro, não viola pactos internacionais como a Convenção para a Preservação e Punição do Crime de Genocídio das Nações Unidas[19]. Não raro, os Estados Unidos baseiam sua indignação para com os aspirantes nucleares no fato de que a aquisição de armas nucleares por mais outro violaria o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP); indicam corretamente essa violação, enquanto negligenciam obstinadamente o fato de que, durante 50 anos, os Estados Unidos têm violado o mesmo tratado, que requer, como um de seus principais pilares, que os Estados nucleares existentes desmantelem seus próprios arsenais. 

 

Um recente artigo no The Atlantic divulgou uma nova pesquisa em neurociência, indicando que pessoas em posição de poder podem sofrer dano cerebral, uma incapacitação dos neurônios-espelho que normalmente permitem a um indivíduo compreender a posição de outra pessoa ou de outros povos[20]. Um país que possui 6 mil armas nucleares, mas critica ferozmente a Coreia do Norte por ter menos de 30; um país que tem 12 submarinos classe Ohio, cada um carregando o equivalente a 4.000 explosões de Hiroshima, mas entra em guerra contra o Iraque sob a falsa evidência de que o país teria material para a construção de uma única arma nuclear; um país que não se dá ao trabalho de comemorar os dias 6 e 9 de agosto, e as centenas de milhares de vidas incineradas naqueles dias, mas não deixa de esbravejar contra os projetos nucleares iranianos, impondo sanções ao país e desencadeando o vírus digital Stuxnet[vi], a fim de comprometer a usina de enriquecimento de urânio do Irã[21]; um país que convence a Líbia a se desfazer de seu material nuclear e que, depois de feito, ajuda a assassinar o líder do país, pode muito bem parecer um país cujos governantes - e provavelmente parte de sua população - não possuem mais neurônios-espelho funcionais.


Quando esse poder de destruição assimétrico é apontado, os Estados Unidos dizem: "sim, mas eles (i.e., pessoas racializadas) podem vir a usá-lo, enquanto nós (i.e., brancos no comando dos Estados Unidos) não faremos isso", uma declaração sumamente incoerente, visto que foi exatamente os Estados Unidos o único país a usá-lo, e usá-lo duas vezes![22]. A extrema perturbação causada por imaginar armas nucleares nas mãos de ainda mais um país, raramente se manifesta quando os Estados Unidos distribuem suas próprias armas aos aliados da OTAN, atualmente Alemanha, Bélgica, Holanda e Itália (a Turquia também possui armas nucleares estadunidenses, mas muitas foram removidas após o ano 2000, e aquelas que lá permanecem têm se tornado fonte de crescente preocupação desde 2016[23]). Já que estes quatro países tradicionalmente são vistos como povos de maioria branca, o perigo do uso imprudente ou irresponsável é supostamente inexistente; a proliferação de armas nesses países, na visão dos Estados Unidos, não viola o Tratado de Não Proliferação. Numa proeza de pensamento duplo que teria impressionado até mesmo George Orwell[vii], eles tranquilamente reconhecem que, em caso de guerra (quando os países associados à OTAN serão chamados a participar do fornecimento dessas armas), o Tratado de Não Proliferação perde efeito[24]


Assim, voltamos à questão: que tipo de ordenamento político resultaria em um povo nobre e generoso? Que tipo de ordenamento impediria que um país cometesse flagrantes assassinatos em massa no futuro? Que tipo permitiria que esse país fosse responsabilizado pelos danos causados no passado em seu próprio solo (a nativo-americanos e afro-estadunidenses) e em solo estrangeiro (às populações de Hiroshima e Nagasaki)? Que tipo de ordenamento os ajudaria a desmantelar a polícia mal treinada e militarizada que perambula por suas cidades, assim como desmantelar a arquitetura nuclear nacional? Estas realizações são muito importantes e difíceis, mas também são, certamente, o mínimo se aspiramos nos tornar um grande e bom povo no futuro.


Langston Hughes expressou a opinião de que, enquanto a injustiça racial nos Estados Unidos não cessar em seu próprio território, "será muito difícil que alguns estadunidenses deixem de pensar que o caminho mais fácil para solucionar os problemas na Ásia seja, simplesmente, jogar uma bomba atômica sobre aquelas cabeças coloridas"[25]. Ainda que esta declaração seja de 1953, próximo ao 8º aniversário dos bombardeios de Hiroshima e Nagasaki, ela continua muito relevante hoje, enquanto nos aproximamos do 75º aniversário: naquela época, assim como agora, a segurança da população coreana (entre a de outros povos) estava em questão. A crueldade cotidiana, infligida às pessoas racializadas nas ruas de nossas próprias cidades, funciona como um ensaio mental para que assassinatos em grande escala sejam realizados fora do país; ela mantém flexível nossa capacidade de ser cruel, embotando a mente e nos tornando fluentes ao pronunciar a palavra "dispensável".


Langston Hughes poderia ter observado o contrário com igual precisão. Nossa crueldade fora do país embrutece nossos corações e nos permite tolerar o espetáculo da injustiça racial cotidiana em nosso próprio território. Ao ver seu próprio país vangloriar-se de uma vasta arquitetura nuclear que não tem outro propósito senão o de eliminar instantaneamente da face da Terra uma população massiva de civis – com os códigos de lançamento casualmente dobrados, dia e noite, nos bolsos do nosso presidente – consciente ou inconscientemente, os estadunidenses absorvem a lição do poder, sofrem da mesma deterioração cerebral, e agora se tornam incapazes de entender até mesmo se vidas negras e nativo-americanas ainda importam.

 A crueldade cotidiana, infligida às pessoas racializadas nas ruas de nossas próprias cidades, funciona como um ensaio mental para a realização de assassinatos em grande escala fora do país,  mantendo flexível nossa capacidade de ser cruel;  embotando a mente e nos tornando fluentes ao pronunciar a palavra “dispensável”. 

Um Estado justo é um Estado que faz sua população se importar em ser justa. Um país nuclear pode faz isso? A arquitetura nuclear não exigiria de sua população precisamente que a acuidade perceptiva seja perdida? Se alguém mantiver os olhos sobre o monumental aparato [nuclear], momento a momento, será induzido a um terror e vergonha incapacitantes (como aconteceu nas primeiras duas décadas após Hiroshima e Nagasaki, quando o horror das armas e da injustiça racial  estavam, dia após dia, e simultaneamente, na mente das pessoas). Ao invés disso, a visão tem agora se reduzido a um conjunto estreito de possibilidades que, exatamente por essa estreiteza, requer uma vulgarização da ética.


Se a denúncia de uma vulgarização ética autoimposta parece exagerada, considere as recentes críticas do establishment político-nuclear do país. Tal establishment tem a virtude - uma virtude praticada por muito poucos na população - de permanecer consciente do arsenal nuclear do país, mas isso tem sido feito ao restringir seu campo de visão. No início de 2019, o antropólogo Hugh Gusterson, observador de longa data de cientistas nucleares e comunidades políticas, escreveu no The Bulletin of Atomic Scientists sobre a grande assembleia reunida no Brookings Institute em Washington para acompanhar um painel com cinco destacados palestrantes, tratando da Política do Novo Começo e Modernização Estratégica[viii]. Gusterson relata que as cinco apresentações foram praticamente idênticas, colocando em debate apenas “a semântica de se a conjunção entre modernização nuclear e controle de armas deveria ser caracterizada como produto de um ‘consenso’ ou de uma ‘coalizão’”[26]. Uma crítica relacionada foi feita pelo cientista político francês Benoit Pelopidas, que descreveu, como anunciado no título de seu artigo, “O Estudo Avançado em Armas Nucleares como um Caso de Autocensura em Estudos de Segurança”. Apesar de não haver qualquer proibição externamente imposta ao livre discurso, ou restrições à argumentação, a comunidade contrai o quadro de referência voluntariamente, para contornar todas as considerações normativas e evitar que seja contemplada a possibilidade de uma reorganização radical do mundo, como a erradicação do aparato nuclear. Dois termos - “não proliferação” e “dissuasão” - são utilizados incansavelmente como ferramentas para encurralar o debate no estreito perímetro da manutenção do status quo, invalidando como irrealista toda ideia alternativa, e, consequentemente, eliminando qualquer senso de obrigação para com o futuro.[27]



A morte de George Floyd trouxe, entre muitos outros desdobramentos, um comprometimento com a transformação da arena político-nuclear. No verão de 2020, uma série de instituições de política externa e segurança nacional dos Estados Unidos, incluindo a publicação The Bulletin of Atomic Scientists, assinaram uma declaração, de autoria da organização Women of Color Advancing Peace, Security and Conflict, concordando em levar adiante uma série de reformas, tais como assegurar que as instituições dedicadas à paz e à segurança "diversifiquem nossos quadros diretores e conselhos consultivos", reconheçam os efeitos nocivos das "microagressões" contra pessoas racializadas nos locais de trabalho, "denunciem o racismo e dividam o fardo de desmantelar a supremacia branca"[28].


Embora a lista de resoluções enfatize mudanças no âmbito dos locais de trabalho e nos órgãos dirigentes destas instituições, pode ser que estas mudanças, por sua vez, conduzam ao reconhecimento do racismo na própria filosofia das relações internacionais e das armas nucleares. A obrigação de “denunciar o racismo e compartilhar o fardo de desmantelar a supremacia branca” deve andar junto com a obrigação de reconhecer o fundamento racista da própria arquitetura nuclear (um hemisfério norte coberto por Estados nucleares, um hemisfério sul coberto por acordos e tratados de zonas livre de armas atômicas) e desmantelá-la, começando pelos dois Estados que detém 93% de todas as armas [nucleares].

 

Na maioria das noites de verão de 2020, realizaram-se as vigílias do movimento Black Lives Matter, não apenas nos grandes centros urbanos, mas também em pequenos municípios por todo o país. Em Arlington, Massachusetts, por exemplo, as pessoas permaneceram de pé, das 18 às 19 horas, usando máscaras e mantendo uma distância segura[xix], ao longo da larga avenida principal, enquanto uma fileira de bicicletas e carros passavam buzinando e gesticulando em aprovação aos dizeres: "Breonna Taylor", "Raychard Brooks", "George Floyd", "Diga o nome deles", "Mais ninguém", "Sem justiça, sem paz”. Nos últimos 8 minutos e 46 segundos do horário marcado, as pessoas se ajoelhavam, sobre apenas um joelho, e levantavam-se somente após os sinos da igreja anunciarem a conclusão da hora. A postura foi herdada das décadas de luta pelos direitos civis (iniciada por Marin Luther King Jr. e renovada por Colin Kaepernick e os jogadores negros da NFL); o tempo em que permanecem ajoelhados é uma referência direta ao assassinato de George Floyd, como se ao repetir a atitude do policial pudéssemos voltar atrás, reverter sua intenção e aquele desfecho. A postura expressa uma série de sentimentos: pesar pela morte de George Floyd, um contrafactual desejo de que aquilo não tivesse acontecido (e lhe fosse permitido respirar); vergonha por não termos percebido, coletivamente, e durante tanto tempo, a dimensão da violência; e um compromisso de reinventar uma forma de policiamento que nutra e auxilie nossas cidades, dos pequenos municípios aos grandes centros urbanos, ao invés de vitimá-las.

 

Talvez um gesto parecido com esse possa ser feito - na privacidade do próprio lar, nas avenidas centrais ou em praças e espaços públicos - às 8h15min da manhã do dia 6 de agosto e às 11h2min da manhã do dia 9 de agosto. Realizado em memória daqueles que foram assassinados ou ficaram terrivelmente marcados, por remorso de não termos enfrentado a violência mais cedo, e para compartilharmos um compromisso com o desmantelamento da arquitetura nuclear, de forma que precisemos somente rememorar, e nunca mais reencenar, o que aconteceu naqueles dias. Qual seria a duração apropriada? Talvez 53 segundos, o intervalo de tempo entre o momento que as crianças de Hiroshima apontaram para o B-29 no céu azul e o ofuscante clarão que derreteu seus olhos e apagou seu mundo. Ou, talvez, os 100 segundos que o Bulletin designou como a janela de tempo que nos separa hoje de uma catástrofe mundial.


Elaine Scarry professora de Estética e Teoria Geral do Valor na cátedra Walter M. Cabot na Universidade de Harvard, autora do recente Thinking in an Emergency


NOTAS DO AUTOR 

[1] Para um quadro resumido da pesquisa do Centro para Controle e Prevenção de Doenças (CDC) sobre as mortes nos vários grupos raciais por aplicação da lei, de 1999 a 2015, ver Elise Hansen, CNN, “The Forgotten Minority in Police Shootings”, November 13, 2017. Https://www.cnn.com/2017/11/10/us/native-lives-matter/index.html. Outro extenso estudo revelou que “nativo-americanos homens têm 14 vezes mais encontros fatais [com a polícia] que homens brancos; nativo-americanos mulheres têm 38 vezes mais encontros fatais do que mulheres brancas.” Matthew Harvey, The Center for Indian Country Development, “Fatal Encounters between Native Americans and the Police”, março de 2020. Https://www.minneapolisfed.org/~/media/assets/articles/2020/fatal-encounters-between-native-americans-and-the-police/fatal-encounters-between-native-americans-and-the-police_march-2020.pdf?la=en 
[2] John Hersey, "Hiroshima" (New York: Vintage, 1946, 1984; 2nd edition 2020), pp. 35, 181, 146, 167 168, 183-5, 191.
[3] Estipulo que “quase” ninguém no mundo, exceto o povo suíço, agindo por uma ética da “igualdade de sobrevivência”, criou abrigos nucleares para 114% de sua população (assim como muitos hospitais e postos de primeiros socorros escondidos no interior das montanhas); não é inconcebível que alguns deles sobrevivam. Os Estados Unidos têm gasto igualmente uma grande quantidade de recursos em abrigos nucleares para uma única pessoa, o presidente, e seu pessoal - uma cidade miniatura escavada dentro de uma montanha - mas nenhum abrigo para a população. Para mais sobre o contraste entre o sistema de abrigos Suíço e Norte Americano, veja Elaine Scarry, "Thinking in an Emergency" (New York: Norton, 2011), pp. 51-69; e para mais detalhes sobre os abrigos estadunidenses, veja Garrett M. Graff, Raven Rock: em "Story of The U.S. Government’s Secret Plan to Save Itsefl - While the Rest of Us Die" (New York: Simon and Schuster, 2017)
[4] Langston Hughes, “Here to Yonder: Simple and the Atom Bomb”, Chicago Defender, 19 de agosto de 1945, citado em Vincent Intondi, "African Americans Against the Bomb: Nuclear Weapons, Colonialism, and the Black Freedom Movement" (Stanford, Ca.: Stanford Univerity Press, 2015), p. 15.
[5] Richard Rhodes descreve o encontro do presidente Roosevelt com o primeiro ministro Churchill na propriedade de Roosevelt, em Hudson Valley, Hyde Park, 18 e 19 de setembro de 1944, e “um memorando secreto” que “registrava pela primeira vez a posição anglo-americana sobre o primeiro uso da nova arma”. O documento contemplava bombardear múltiplas cidades japonesas, emitindo um alerta somente depois que a primeira cidade fosse atingida: “quando a ‘bomba’ estiver finalmente disponível, ela poderia, possivelmente, e após cuidadosa consideração, ser usada contra os japoneses, a serem advertidos que o bombardeio irá se repetir até que eles se rendam”. O treinamento do 509° Grupo Composto no outono de 1944, em Utah, envolvia identificação de alvo visual, algo que intrigou o grupo, já que estavam acostumados com uma “Europa nublada”, onde a identificação visual de um alvo raramente era possível. (Richard Rhodes, The Making of the Atomic Bomb [New York: Simon & Schuster, 1986, 2012], pp. 537, 585). 
[6] G. Schuyler, “Views and Reviews,” Pittsburgh Courier, 18 de agosto, 1945 e 15 de dezembro, 1945, citado em Intondi, "African Americans Against the Bomb", p. 14.
[7] Zora Neale Hurston, cartas à Claude Barnette, 21 de julho, 1946, publicado em "Zora Neale Hurston: A Life in Letters", ed. Carla Kaplan (New York: Doubleday, 2002), p. 545, e citado em Intondi, "African Americans Against the Bomb", p. 15.
[8] W.E.B. Du Bois, In "Battle for Peace: the Story of My 83rd Birthday, introd. Manning Marable" (New York: Oxford University Press, 2007), pp. xxi, xxiii, xxv, 23, 26-27, 37, 48, 49, 137, 144.
[9] O Fundo para o Desenvolvimento Humano calcula que 1 bilhão de dólares é uma pilha de notas de dólares com 112 quilômetros de altura, enquanto um trilhão de dólares forma uma pilha com altura aproximada de 110.000 quilômetros, ou “mais de 1/4 da distância entre a terra e a lua”, ver https://www.ehd.org/science_technology_largenumbers.php 
[10] “The President said that we must recognize the Quemoy is not our ship. Letters to him constantly say what do we care what happens to those yellow people out there.” Foreign Relation of The United States, 1952-54, vol. 14, pág. 662. Eisenhower também considerou usar uma arma nuclear contra Berlim em 1959, uma população branca. Eu descrevo esses eventos, onde presidentes consideraram usar armas nucleares, em Thermonuclear Monarchy: Choosing between Democracy and Doom (New York: Norton, 2014) 
[11] “Memorandum: Secretary of Defense Laird to NSA Kissinger, June 25, 1969. Subject: Review of US Contingency Plans for Washington Special Action Group,” Tab L, tornado público em outubro de 2006 (Documento 12, “How Do You Solve a Problem Like Korea,” Electronic Briefing Book 322, National Security Archive, George Washington University). Ver também Chris McGreal, “Papers Reveal Nixon Plan for North Korea Nuclear Strike,” Guardian, 7 de julho de 2010.
[12] Sobre a proposta de Nixon de usar armas nucleares contra o Vietnã do Norte em 1972, ver Deb Riechmann, “Nixon Discussed Nuclear Strike in Vietna”, Boston Globe, 3 de março de 2002.
[13] Sobre a publicação de documentos mostrando as considerações de Johnson para um ataque preventivo à China, ver Jim Mann, “U.S. Considered ’64 Bombing to Keep China Nuclear-Free,” Los Angeles Times, 27 de setembro de l998.
[14] Nick Pike, “Nuclear Threats during the Gulf War,” Federation of American Scientist, 19 de fevereiro de 1998. Ameaças feitas pelos Estados Unidos e pelo Reino Unido incluíam a total destruição do país: por exemplo, o ministro da relações exteriores britânico, Douglar Hurd, advertiu contra qualquer ação que viesse a “provocar uma resposta que poderia acarretar na destruição completa daquele país”, https://fas.org/irp/eprint/ds-threats.htm. Para um registro das ameaças dos Estados Unidos e dos britânicos, assim como do uso de munições de urânio empobrecido contra o Iraque, ver Joseph Gerson, "Empire of the Bomb: How the U.S. Uses Nuclear Weapons to Dominate the World" (Ann Arbor, Michigan: Pluto Press, 2007), p. 217f. 
[15] Dan Zak, “He saw a nuclear blast at 9, then spent his life opposing nuclear war and climate change” Washington Post, 24 de Agosto de 2017.
[16] Dan Zak, “A Ground Zero Forgotten: The Marshall Islands, Once a U.S. Nuclear Test Site, Faces Oblivion Again”, Washington Post, 27 de Novembro de 2015.
[17] Joshua Wheeler, “It’s Been 75 Years, and Amercian Still Won’t Admit a Nuclear Disaster”, New York Times, 16 de julho de 2020. A presença de famílias hispânicas também é percebida por Maria Cramer, que escreve, “Autoridades não alertaram qualquer um dos residentes - muitos deles fazendeiros, navajos, povoações mexicanas e seus descendentes, que criavam gado e bebiam água de cisternas - sobre o teste” (”’Now I Am Become Death’: The Legacy of the First Nuclear Bomb Test”, New York Times, 15 de julho de 2020). Um estudo de 2010, do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), informava: “Os padrões de segurança adotados para aqueles que estavam informados do programa eram diferentes daqueles adotados para o público desinformado. Quem trabalhava projeto sabia o suficiente para deixar as áreas quando as altas taxas de radiação foram medidas, ou tomar as precauções necessárias para minimizar a exposição, mas os membros do público não percebiam que mudanças em sua conduta eram necessárias, e a equipe do projeto não solicitou a evacuação, nem medidas protetivas, mesmo quando a tolerância pré-determinada à taxa de exposição havia sido excedida”. Considerando a composição racial dos residentes que viviam próximos ao local do teste, o estudo observa que o general Leslie Groves estipulou “uma área de 27x38 quilômetros na qual não vivia nenhum nativo-americano”. Um gráfico resumindo a composição racial dos residentes nas imediações específica a presença de brancos e hispânicos, mas não de nativo-americanos. “Final Report of the Los Alamos Historical Document Retrieval and Assessment (LAHDRA) Project”, CDC, novembro de 2010, p. 10-3, 10-15, 10-50. Um perímetro mais amplo, no entanto, revela a presença de muitos nativo-americanos. A Indian Country Today afirma que as 19 mil pessoas vivendo dentro de um raio de 80 quilômetros do local de teste em Trinity incluem 19 comunidades Pueblo, duas tribos Apache e várias “secções da Nação Navajo”. Tanya H. Lee, “H-Bomb Guinea Pigs! Natives Suffering After New Mexico Tests”, Indian Country Today, 5 de março de 2014, https://indiancountrytoday.com/archive/h-bomb-guinea-pigs-natives-suffering-decades-after-new-mexico-tests-jpZAFe1gFEmRCGfiq42BDg 
[18] E. Frohmberg, R. Goble, V. Sanchez, D. Quigley, “The Assessment of Radiation Exposures in Native American Communities from Nuclear Weapons Testing in Nevada,” Risk Analysis, Fevereiro, 2000, pp. 101-111. 
[19] Departamento de Estado e Departamento de Defesa, “Written Statement of the Government of the United States,” Corte Internacional de Justiça, Audiências sobre a questão: “Is the threat or use of nuclear weapons in any circumstance permitted under international law?”, 1995, p.33 
[20] Jerry Useem, “Power Causes Brain Damage: How Leaders Lose Mental Capacities – Most Notably for Reading Other People – that Were Essential to Their Rise,” The Atlantic, Julho/Agosto de 2020. A pesquisa - mostrando que pessoas em posição de poder se tornam “menos aptas a verem as coisas do ponto de vista do outro”, além de “mais impulsivas e menos conscientes dos riscos” - foi levada adiante nos estudos do psicólogo Dacher Keltner, em UC Berkeley, e pelo neurocientista Sukhvinder Obhi, na Universidade de McMaster, Ontario.
[21] Kim Zetter, “How Digital Detectives Deciphered Stuxnet, the Most Menacing Malware in History,” Wired, 11 de julho de 2011. Ver também o documentário Zero Days, dirigido por Alex Gibney, 2016.
[22] O antropólogo Hugh Gusterson chama essa assimetria no pensamento estadunidense de “orientalismo nuclear”, a crença de que os outros países são “muito infantis, muito imaturos e muito irresponsáveis para serem confiáveis com armas nucleares”. Ver sua vivaz e ilustrada palestra “Democracy, Hypocrisy, First Use”, 4 de novembro de 2017, na conferência “Presidential First Use: Is it Legal? Is it Constitutional? Is it Just?”, Harvard https://www.youtube.com/watch?v=zdLXKNivl9M&list=PL2SOU6wwxB0vZEgAvRotf9-INc9nA8t02&index=10&t=0s. Para ler uma transcrição, ver Public Books, “Virtual Roundtable on Presidential First Use of Nuclear Weapons”, 26 de fevereiro de 2018. 
[23] Ver Hans Kristensen, “Urgent: Move US Nuclear Weapons Out of Turkey,” Federação dos Cientistas Americanos, 16 de outubro de 2019.
[24] “Questions on the Draft Non-Proliferation Treaty Asked by U.S. Allies Together with Answers Given by the United States”, 28 de abril de 1967, Tab A, vinculada a “Letter from the Under Secretary of State (Katzenbach) to Secretary of Defense Clifford”, 10 de abril de 1968, Foreign Relations of the United States, 1964-68, Vol. XI, Arms Control and Disarmament, p. 575.
[25] Langston Hughes, “Colored Asia Makes Highly Colored News These Days,” Chicago Defender, 15 de agosto de 1953, p. 11, citado em Intondi, "African Americans Against the Bomb", p. 31.
[26] Hugh Gusterson, “The Blinders on the U.S. Nuclear Policy Establishment,” Bulletin of Atomic Scientists, 8 de janeiro de 2019.
[27] Benoît Pelopidas “Nuclear Weapons Scholarship as a Case of Self-Censorship in Security Studies”, Journal of Global Security Studies, 2016.
[28] Gayle Spinazze, "WCAPS Statement: Standing Together Against Racism and Discrimination”, Bulletin of the Atomic Scientists, 10 de junho de 2020. Como escreveu Rachel Bronson, ao assinar a declaração, “O Bulletin reconhece o racismo como uma ameaça para a humanidade, e que a segurança nacional não pode avançar até que todos os cidadãos tenham sólidas garantias de segurança pessoal (…) Nós reconhecemos que temos muito trabalho a fazer nesta frente, para servir como aliados das comunidades racializadas e daqueles que advogam por mudanças” 

NOTAS DA PÁGINA

[ i ] Dia da Memória, celebração estadunidense realizada pela primeira vez em 1866, para homenagear os militares do país que morreram durante a Guerra Civil. Foi oficializado em 1868 e tornado feriado nacional em 1971, a ser comemorado na última segunda-feira do mês de maio.
[ ii ] No original, “good massa”, coloquialismo dos negros estadunidenses durante a escravidão, referindo-se a certos proprietário de escravos que, eventual e relativamente, eram percepidos como "bons" senhores. cf. "Born in Slavery: Slave Narratives from the Federal Writers' Project, 1936-1938: Kansas Narratives, Volume VI" (gutenberg.org), e "Slavery And Discrimination In America History Essay" (ukessays.com
[ iii ] Du Bois (1868-1963), sociólogo, historiador, socialista, pan-africanista, ativista estadunidense pelos direitos civis. Um dos mais importantes intelectuais do movimento negro e primeiro homem negro a receber um Ph.D da universidade de Harvard. Tornou-se membro do Partido Comunista e expatriou-se em Gana, onde obteve cidadania e viveu até sua morte.
[ iv ] Kinmen ou Quemoy, pequeno arquipélago geograficamente próximo de Xiamen. A declaração se dá no contexto da crise nas Ilhas Quemoy (também conhecidas como Kinmen), durante a Guerra Fria. As Ilhas Quemoy são um grupo de ilhas controladas por Taiwan, localizadas perto da costa da China continental. Durante a Guerra Civil Chinesa, as ilhas foram disputadas entre o governo nacionalista de Taiwan e o governo comunista da China continental.
[ v ] removido.
[ vi ] Vírus computacional originalmente desenvolvido para comprometer as instalações do programa nuclear iraniano. O vírus digital sofreu mutação e se espalhou por outras instalações industriais e de produção de energia, afetando controladores lógicos programáveis (PLCs) usados para automatizar processos de máquina. Descoberto em 2010, o Stuxnet ganhou a atenção da mídia por ser o primeiro vírus capaz de danificar hardwares, e porque teria sido criado pela Agência Nacional de Segurança dos Estados Unidos (NSA) e a Agência Central de Inteligência (CIA) do país, juntamente com a Agência de Inteligência de Israel (MOSSAD). cf. https://www.kaspersky.com/blog/
[ vii ] Segundo o autor mencionado, "pensamento duplo indica a capacidade de ter na mente, ao mesmo tempo, duas opiniões contraditórias e aceitar ambas" cf. George Orwell, em "1984"
[ viii ] O encontro pode ser assistido no canal do Brookings Institute em https://youtu.be/HNhuFumSg1E 
[ ix ] Em 2020, o mundo atravessa a pandemia do Covid-19, e o uso de máscara e distância adequada eram uma das orientações para diminuir o risco de contágio e transmissão.

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